De acordo com Pasquale e Ulisses, a Estilística estuda a utilização da linguagem como meio de
exteriorização de dados emotivos e estéticos. Seu objeto de estudo são os
processos de manipulação da linguagem que permitem a quem fala ou escreve mais
do que simplesmente informar - interessam principalmente as possibilidades de
sugerir conteúdos emotivos e intuitivos por meio das palavras e da sua
organização.
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recorre frequentemente a esse tipo de manipulação, às vezes com pouquíssimas
palavras.
RECURSOS
FONOLÓGICOS
Os sons da língua
podem ser organizados de forma a transmitir sugestões e conteúdos intuitivos. Podem ser apresentados em 3 formas:
Aliteração: repetição de uma mesma consoante numa sequência linguística, como
ocorre com /v/ e /l/ no trecho seguinte:
"Vozes
veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos
violões, vozes veladas,
Vagam nos
velhos vórtices velozes
Dos ventos,
vivas vãs vulcanizadas."
(Cruz e Sousa)
Assonância: Repetição de uma
mesma vogal numa sequência linguística. É o que
ocorre com /ã/ e /õ/ em:
"E
bamboleando em ronda
dançam bandos
tontos e bambos
de pirilampos"
(Guilherme de
Almeida)
Onomatopeia: Tentativa de
reproduzir linguisticamente sons e ruídos do mundo natural.
"Blem...
blem...blem... cantam os chocalhos
dos tristes
bodes patriarcais
E os guizos
finos das ovelhinhas ternas
dlin... dlin...
dlin..."
(Ascenso Ferreira)
RECURSOS
MORFOLÓGICOS
Os casos mais
comuns de exploração expressiva de recursos morfológicos estão relacionados com
o uso de determinados sufixos. É muito frequente o emprego dos sufixos
aumentativos e diminutivos para exprimir conteúdos afetivos nem sempre
relacionados com a dimensão física dos seres.
É o caso de palavras como mulherão ou coitadinho,
que fazem referência, respectivamente, à beleza e às características psicológicas
dos seres designados.
RECURSOS SEMÂNTICOS
É a exploração dos
significados das palavras.
Metáfora: ocorre quando uma palavra passa a designar alguma coisa com a qual não mantém nenhuma relação objetiva.
Senti a seda do seu rosto em meus dedos. (Seda é uma metáfora que indica que a pele é tão agradável ao tato quanto a seda).
Metonímia: Ocorre quando uma palavra é utilizada para designar algo com a qual mantém uma relação de posse ou proximidade.
Meus olhos estão tristes porque você decidiu partir. (Olhos indica uma parte do ser humano que está sendo usada para designar o ser humano completo)
Antítese: Aproximação de antônimos.
"Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido sou herói."
(Caetano Veloso)
Eufemismo: Atenuamento intencional da expressão em certas situações.
Falta-lhe inteligência para compreender isso.
Hipérbole: Exagero intencional da expressão.
Faria isso mil vezes se fosse preciso.
Ironia: Utilizar palavras que devem ser compreendidas no sentido oposto do que aparentam transmitir. Um poderoso instrumento para o sarcasmo.
Muito competente aquele candidato! Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar algum.
Gradação: Encadear palavras cujos significados têm efeito cumulativo.
Os grandes projetos de colonização resultaram em pilhas de papéis velhos, restos de obras inacabadas, hectares de floresta devastada, milhares de famílias abandonadas à própria sorte.
Prosopopeia ou Personificação: Atribuir características de seres animados a seres inanimados. Ou características humanas a seres não-humanos.
A floresta gesticulava nervosamente diante do fogo que a devorava.
Há ainda mais um recurso estilístico, que é o recurso sintático, mas que não tratarei dele aqui. Porém, fica registrado sua existência.
FONTE: Gramática da Língua Portuguesa, Pasquale & Ulisses.